Passeio com Johnny Guitar
Vem de branco, com a calma de um cansaço repetido. Traz consigo a limpeza da lixívia que limpa um cagadouro. Fuma um cigarro, e surge a necessidade de dizer algo. Quando a rua está demasiado vazia, sente-se a claustrofobia do encontro, a obrigatoriedade do reconhecimento do desconhecido. Da boca, do peito, tirado lá do fundo, sai um irónico “Muito boas noites”. O plural não é força de expressão. É manifestação da circunstância em que se encontra. É plural, porque noites como aquela não existem no singular. São rotundas, onde se dão voltas a uma velocidade constante, encarando as mesmas saídas às mesmas horas de dias diferentes. Entra em casa, dirige-se à janela com a casualidade de quem cumpre um ritual, e observa a vizinha da frente, que num quarto bem iluminado e decorado com flores, escova os cabelos coberta da ingenuidade de um manequim de montra. Quem sabe se sofre da mesma sina que ele. Não interessa. Na vastidão de uma cidade, há espaço para a correspondência de rituais alhe...