Sobre Les Mauvaises Recontres de Alexandre Astruc


Sobre Les Mauvaises Rencontres (1955), dizia Rivette que se tratava de um filme de jovens, feito para jovens, por um jovem. Olhando para o paradigma atual, a juventude abandonou esta linguagem, e retrospetivamente, concluímos se calhar, que falava de uma juventude mais poética, onde o significado de tudo está nas pequenas subtilezas e poder encantatório de cada movimento. 

Aos olhos de um jovem atual (penso ainda poder afirmar com segurança pertencer a esse grupo), Astruc marca pela diferença. Pela maturidade que aparenta encarnar, pelo domínio e controlo de tudo o que faz, que facilmente se pode considerar como estando associado a um rigor hoje estrangeiro.

No seu famoso manifesto, Astruc falava da certeza da democratização da imagem em movimento, da proliferação dos pequenos formatos. Nesse sentido, em pouco ou nada falhou. No entanto, as consequências desse caminho, foram a inevitável insignificância associada a 90% (número otimista) do que se filma. Vivem-se tempos onde a reflexão não existe, porque o imediatismo não o permite, porque a intenção não tem sequer espaço para ser criada. Rivette dizia que Astruc não era conhecido pela sua frivolidade. Era talvez essa uma das suas maiores qualidades: nada era gratuito, ao contrário do que hoje se vê, onde impera a vaidade, a frivolidade fria de um pensamento ausente.

Não restem dúvidas: Quem está mal no meio disto tudo, não é ele. 


Na véspera de um abraço redundante, de um reencontro impossível, Astruc afasta-se. E o que sobra? A estranheza e distância de um contacto protagonizado por dois interlocutores descrentes.


Aqui,  Astruc protagoniza uma dança de intenções: Todos os intervenientes pousam para o seu retrato, e pelos olhos desta câmera-nuvem, não há desdém que fique por captar.


Como apontou o Manuel: O fogo queima e pulsa com a intensidade da mais ardente das lembranças. 
Acrescento: Isto, ainda que sejamos apenas cinza.

- João

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Efemeridade do documentário

Alma Minha

Sr. Ford