Negação sentimental
Na representação de um amor hesitante, é frequente enfatizar a aparente desconexão que se verifica entre o corpo e o sentimento, que tão amiúde caracteriza estes estados de espírito. Digo estado de espírito, porque nestas situações, o sentimento tem tanto de diáfano como um qualquer espectro. Vive-se na negação, e, frequentemente, anda-se na direção oposta da vontade, como se o caminho para o inevitável fado que nos confrontará passasse obrigatoriamente pelas ruas estreitas da repressão e frustração.
Os recursos utilizados para a expressão desta diabólica trama são múltiplos, mas em Goodbye Again (1961) de Anatole Litvak, assumem novas e amplas dimensões.
Na magnífica sequência em que Ingrid Bergman chora ao
conduzir para longe do homem que ama, o alheamento do sentimento que sabe que
sente é tal, que se torna confuso de onde vem aquele choro: Será que até o céu
tem pena de si?
E com este recurso que tem tanto de kitsch como de eficiente/tocante, marca-se o caminho tão frequentemente caminhado, e perpetua-se a ideia de que não há tristeza como a nossa, não há choro como o nosso. Não há fado como o nosso. Mesmo que dele queiramos tanto escapar.
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