és tu sim senhora, monsieur Carax

«Work in Progress» é a frase que abre o primeiro plano do novo filme de Leos Carax, fingindo ser um aviso à navegação. Depois de um ponto de interrogação se sobrepor à imagem inicial, compreendemos o falso dilema: o filme está feito, «Work is Done», respondemos nós. Quer tenha ou não cumprido a encomenda do Museu Pompidou, que lhe pediu um filme-retrato capaz de responder à pergunta: «Leos, où êtes-vous?» — o resultado é um auto-retrato. Tudo é familiar para quem conhece a sua obra, mas, desta vez, Carax esconde-se menos — afinal, o tema é ele próprio. Talvez por isso tente desprender-se desse reconhecimento já no título, como que envergonhado. «Oui, ce n’est pas toi, mais c’est à toi», respondemos nós. Sem surpresa, a resposta à questão do Pompidou é que Carax ainda anda pelo cinema. O filme acaba por ser uma descrição da arte que pratica. É um retrato do cinema segundo Carax — é um filme inconfundivelmente seu. Ainda assim, há quem veja um filme de Godard, acusando-o de imitaçã...