Efemeridade do documentário
Sou da opinião de que quando uma realidade retratada cessa a sua existência, a definição “documentário” esgota-se, e passamos definitivamente a estar mais perto do campo da ficção, do que do da repetição e retrato de uma qualquer realidade, aparentemente tão concreta e definida aquando a sua criação física. Lembro-me de dois exemplos que tiveram em mim esse choque inequívoco: A festa de António Campos, e Jaime de António Reis. Os dois, por razões distintas, e, se calhar, na sua génese opostas. Em A festa , António Campos filma de forma bastante objetiva uma festa hoje abandonada, cheia de gente que não existe, e (anti)personagens que nunca conhecemos, e que não podemos conhecer. Se calhar, a melhor e única maneira de as conhecermos, seria fazê-las voltar ao ecrã; Trazê-las de volta, num qualquer enredo que, descontemporâneo, trataria de as invocar, trazendo-as para um plano que nunca quiseram ocupar. Fazer a festa em 2024, recriar plano por plano este filme, seria ultimamen...